JORNAL DA ALTEROSA
Marchas das Vagabundas e da Liberdade desfilam polêmica e engajamento em BH
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Centenas de mulheres participaram neste sábado, 18, em Belo Horizonte, da Marcha das Vagabundas, seguindo o exemplo de outras cidades do Brasil e do exterior. Com saias curtas, shorts, vestidos e batons vermelhos, elas chamaram atenção para o fato de que, muitas vezes, as mulheres são estupradas e violentadas e, embora sejam vítimas, são acusadas de terem provocado a agressão sexual. “A marcha é para mostrar que meu decote e vestido curto não são motivos para me estuprarem. O corpo é meu. Encosta nele quem eu quero”, disse a estudante de ciências sociais Nathalia Ferreira, de 18 anos.
A jovem sentiu-se desrepeitada quando, em uma festa, um garoto tocou seu corpo sem sua permissão. “Falei para as pessoas, mas ninguém me deu atenção. Acharam que estava exagerando por reclamar.” A Marcha das Vagabundas, também chamada de Marcha das Vadias, começou em Toronto, no Canadá, e internacionalizou-se. As canadenses voltaram-se contra a fala de um policial que disse que as mulheres deveriam evitar roupas de vagabundas para não serem estupradas. No Brasil, o evento já ocorreu em São Paulo, Brasília e Recife. Em Belo Horizonte, cerca de 1 mil manifestantes, entre homens e mulheres, participaram do protesto auto-declarado como “manifesto festivo.” A Polícia Militar informou que, como não acompanhou o evento, não tinha números oficiais sobre a quantidade de manifestanes.
Com batucada, cartazes coloridos, os manifestantes se concentraram na praça da Estação, seguiram pelo Centro em direção à Praça da Liberdade, onde se juntou à Marcha da Liberdade, que defende a discriminalização do uso da maconha. Na quarta-feira, os oito ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) foram unânimes em liberar as manifestações pela legalização das drogas.


Marcha da Liberdade
Inspirada no ato realizado em abril deste ano em Toronto, no Canadá, a Marcha das Vagabundas é uma resposta ao depoimento de um policial em uma universidade de direito da cidade canadense. Ele teria afirmado que as estudantes deveriam evitar se vestir como “vadias” para não serem vítimas de assédio sexual. As alunas então resolveram protestar contra a declaração e se reuniram na primeira marcha, com participação de cerca de 3 mil pessoas, em Toronto.
Participantes da chamada Marcha da Liberdade, em Belo Horizonte, aplaudiram hoje a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que liberou as manifestações públicas em favor da maconha. "A marcha da liberdade surgiu da repressão à marcha da maconha e da violência em São Paulo. É uma forma de estarmos comemorando a vitória na quarta-feira (quando ocorreu a decisão do STF). Estamos comemorando em grande estilo o nosso direito de expressar", afirmou o gerente administrativo, Victor do Carmo, 30 anos, um dos organizadores da manifestação.
"O direito de liberdade da manifestação do pensamento é muito claro na Constituição e que o STF fez foi ter uma interpretação até muito literal do texto constitucional. O que espanta é que os juízes tenham proibido em algum momento essa marcha da maconha. Não existe censura prévia no nosso ordenamento jurídico", destacou Túlio Vianna, professor de Direito Penal da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Marcha das Vagabundas
A partir daí o movimento se espalhou. Em 4 de junho, ocorreu nas cidades de Boston (EUA), Los Angeles (EUA), Chicago (EUA), Edmonton (Canadá), Edinburgo (Escócia), Estocolmo (Suécia), Amsterdã (Holanda), Copenhagen (Dinamarca) e Camberra (Austrália). No mesmo dia, cerca de 300 pessoas tomaram a Avenida Paulista, em São Paulo, com cartazes com frases como “Meu corpo, minhas regras”, “Ensine os homens a respeitar, não as mulheres a temer”.
Em Belo Horizonte, o evento partiu de estudantes e foi apoiado por organizações de proteção às mulheres e movimentos feministas. De acordo com uma das organizadoras da marcha na capital, a advogada e integrante do movimento feminista Marcha Mundial das Mulheres Thaís Ferreira de Souza, de 23 anos, o ato foi realizado em solidariedade a todas as mulheres que já foram vítimas de violência. “O movimento pretende tirar a responsabilidade da pessoa que foi vítima de abuso. Não é a roupa que ela usa que gera a violência”, disse.
A marcha, segundo a advogada, abre ainda a discussão para o fato de as mulheres serem frequentemente mostradas em campanhas publicitárias com roupas insinuantes. “É uma oportunidade para denunciar a lógica de mercado, que transforma o corpo da mulher em um produto”, afirma Thaís. Performances estão programadas para o trajeto. De acordo com advogada, as pessoas podem ir vestidas como quiserem. “Não é necessário que usem roupas provocantes”, disse.
Na avaliação da professora do curso de comunicação social da UFMG Mirian Chrystus, militante da causa feminista há quase 40 anos, “o movimento vem a calhar nos dias de hoje, em que ainda são registrados muitos casos de violência contra a mulher. “É uma espécie de ato suplementar, que causa impacto, incompreensão, mas que, ao longo do tempo, tende a provocar um rearranjo para mudança de postura e de maior respeito à condição feminina”, analisa. Segundo ela, é preciso dissociar da violência contra a mulher o frequente questionamento sobre o lugar onde a vítima estava, a roupa que usava, se ela provocou o homem. “Isso gera uma mudança de foco. De vítima, ela vira culpada”, afirma.
Brasil
Mais de 800 pessoas participaram também do protesto pelos direitos das mulheres em Brasília neste sábado, 18. Com megafones, as manifestantes gritavam palavras de ordem chamando a atenção das pessoas nas ruas com frases como 'Quem manda no meu corpo sou eu' e 'Cuidado, seu machista, a América Latina vai ser toda feminista'.
Muitas delas usaram o próprio corpo como cartaz ao escrever frases como 'Respeito é sexy' e 'Sou livre'.
A marcha também chama atenção para o número de estupros ocorridos no país. Por ano, segundo a organização do evento, cerca de 15 mil mulheres são estupradas. Em Brasília, somente nos primeiros cinco meses do ano, foram 283 casos registrados: média de dois por dia.
A Marcha das Vadias já ocorreu em São Paulo e em Recife. Em Brasília, o grupo caminhou do shopping Conjunto Nacional, zona central da cidade, até a Torre de TV, onde se juntou a outro protesto: a Marcha da Liberdade.
(com informações das Agência Estado e Brasil)
18 de junho de 2011