JORNAL DA ALTEROSA
Mineiro cai mais no bafômetro
Da mesa do bar direto para a blitz. Os motoristas da capital dos botecos são os mais flagrados nas operações da Lei Seca, na comparação com Rio de Janeiro e São Paulo. No dia em que a versão linha-dura contra os abusos de álcool ao volante em Minas completa cinco meses, Belo Horizonte pode se envergonhar de ter mais de sete bêbados em cada grupo de 100 condutores submetidos ao teste do bafômetro. Entre os cariocas, o índice de desrespeito à legislação é de 1,2% e, entre os paulistanos, de 2,8%. Especialistas alertam que nem mesmo as blitzes montadas sempre de quarta-feira a domingo na capital mineira e os anúncios de maior rigor na fiscalização foram capazes de frear a sensação de impunidade.
Os dados levantados pelo Estado de Minas foram analisados a partir da data de intensificação das operações da Lei Seca nas três capitais do Sudeste. Em BH, desde 14 de julho, quando entrou em vigor a campanha “Sou pela vida. Dirijo sem bebida”, dos 8,7 mil motoristas abordados em blitzes e que fizeram o teste do bafômetro, 678 (7,7%) dirigiam depois do consumo de bebidas alcoólicas. Desse total, 459 cometeram infração de trânsito, ou seja, tinham índice de álcool no sangue entre 0,14mg/l e 0,33mg/l e foram punidos com multa de R$ 957,70 e perda de sete pontos na carteira de habilitação e tiveram o documento recolhido por três dias.
Outros 219 cometeram crimes, com a constatação de teor alcoólico no sangue acima de 0,34mg/l. Nesses casos, as penas são mais severas e, além da punição aplicada aos infratores, o motorista é processado por crime de trânsito e levado à delegacia para responder criminalmente pelo ato, sendo arbitrada a fiança. A lei tem tolerância zero, mas os motoristas com teor alcoólico de até 0,13mg/l são liberados em razão de casos específicos, como margem de erro do equipamento, uso de medicamentos com álcool ou enxaguante bucal.
Em São Paulo, dos 200,4 mil condutores submetidos ao bafômetro desde janeiro deste ano, quando a Operação Direção Segura passou a contar com blitzes diárias, 5.665 foram flagrados desrespeitando a Lei Seca, o equivalente a 2,8%. No Rio de Janeiro, crimes e infrações foram cometidos por 1,2% dos motoristas, desde março de 2009 até agora. Em números absolutos, dos 579,9 mil que sopraram o equipamento, 7.020 estavam irregulares.
Especialista em trânsito e membro da Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Minas Gerais (OAB-MG), Carlos Cateb faz críticas ao comportamento dos mineiros ao volante. “Belo Horizonte é a capital dos botecos e isso pode ser um indicativo das taxas tão mais altas nos flagrantes. Começamos muito tarde a fiscalizar de forma mais exigente. Se houvesse fiscalização mais intensa, com blitzes todos os dias, como ocorre no Rio de Janeiro e São Paulo, este número ia ser alarmante. Os lugares precisam ser variados e os horários, incertos. As blitzes ocorrem sempre nos mesmos lugares, sendo quase anunciadas nos jornais. Acho que o mineiro, de uma maneira geral, abusa do álcool e tem a crença ou quase certeza da impunidade.”
Recusa
Outro especialista da área, o engenheiro mestre em trânsito Silvestre Andrade alerta para os índices de recusa dos motoristas em soprar o bafòmetro. Nesse caso, Belo Horizonte está no segundo lugar no ranking das capitais, com 3,3% dos condutores abordados se negando a fazer o teste. No Rio de Janeiro, a resistência chega a 8,9% e, em São Paulo, a 0,4%. Na capital mineira, a taxa se refere ao balanço dos cinco meses da campanha “Sou pela vida. Dirijo sem bebida”, lançada pela Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) com promessa de fiscalização simultânea e ações educativas em bairros com concentrações de bares, boates e restaurantes.
Atualmente, o condutor que se recusa a soprar o bafômetro, mesmo que não apresente evidências de consumo de álcool, é multado em R$ 957,70, perde sete pontos na carteira de habilitação e responde a processo administrativo. A carteira também é recolhida por três dias, mesma punição adotada àqueles com sinais de embriaguez. Mas essas regras mais rígidas só são aplicadas desde 5 de agosto em Minas. Antes disso, os condutores que se recusavam a soprar o bafômetro e não apresentavam sinais visuais de embriaguez eram liberados. Com isso, nas três primeiras semanas da campanha, o índice de recusa aos testes foi de 26%.
Palavra de especialista
Silvestre Andrade
engenheiro mestre em transporte e trânsito
Aposta na sorte
As pessoas têm o costume de apostar na sorte em Minas. No Rio de Janeiro, a campanha ganhou muita divulgação na mídia, com gente famosa sendo flagrada e a constatação de que a lei estava sendo aplicada com rigor. Em Belo Horizonte, as ações são recentes e feitas ‘mineiramente’, com menos repercussão. Talvez por isso os motoristas se sintam mais soltos, sem tanta vigilância do estado e acabam cometendo infrações ao volante e sendo pegas. Para mudar esse quadro, acredito na necessidade de dar frequência e constância à operação, pois assim os motoristas entendem que as ações estão consolidadas e não são apenas fogo de palha.
FORA DA LEI
Belo Horizonte
8.743 motoristas fizeram teste do bafômetro
678 dirigiam sob efeito de álcool (infração ou crime de trânsito)
Total: 7,7%
(Dados de 14 de julho a 11 de dezembro de 2011)
São Paulo
200.499 motoristas fizeram o teste do bafômetro
5.665 dirigiam sob efeito de álcool
Total: 2,8%
(Dados de janeiro a novembro de 2011)
Rio de Janeiro
579.981 motoristas fizeram o teste do bafômetro
7.020 dirigiam sob efeito de álcool
Total: 1,2%
(Dados de março de 2009 até ontem)
RECUSA DOS MOTORISTAS EM FAZER O TESTE (nos mesmos períodos)
Rio de Janeiro – 8,9%
Belo Horizonte – 3,3%
São Paulo – 0,4%
* A reportagem analisou dados a partir da intensificação das blitzes da Lei Seca nas capitais.
14 de dezembro de 2011